domingo, 20 de fevereiro de 2011

Chuang Tzu e a borboleta (século IV a.C.).

Chuang Tzu e a borboleta (século IV a.C.).
(Ou parafrafesando Raul...)


“Uma noite em que estive meditando

Horas longas nas cousas deste mundo

Pouco a pouco me veio o sono brando

E um sonho tão jucundo que ninguém já teve, assim:

Sonhei que era uma lépida e elegante borboleta voando,

De pouso em pouso, sobre o néctar dulcíssimo das flores.

Tempos e tempos, uma vida inteira, andei eu

Com outras companheiras, numa doideira,

Na estação quente dos amores.

Tudo me parecia tão real, tal qual estou dizendo,

E até me lembro que, numa tarde muito fria, quando o sol procurava,

Um vento tão gelado de repente me assaltou,

Tão mal, tão mal, fiquei, que logo ali, sobre um jasmim, morri!

Despertei: e acordado, ainda insecto morto me julguei!

Que sonhos tem a gente – extravagantes!

Sonhos?! – que fosse sonho, então, acreditei,

Mas após muito cogitar vejo só um caso emaranhado!

Justifico: é que a minha convicção

De existir como insecto foi tão firme antes

Como agora é de ser de humana geração!

E, portanto:fui antes um homem que sonhava ser uma borboleta,

ou sou agora uma borboleta que sonha que é um homem?

Erro do intelecto?

Não sei…”

Chuang Tzu e a borboleta. Versão poética (adaptada) de Silva Mendes,Excertos de Filosofia Taoísta.Macau, Escola das Artes e Ofícios, 1930

Fatos que se sucederam...

Chuang Tzu, ficou muito mobilizado com o sonho em que era borboleta e com o fato de ao acordar pensar se não seria uma borboleta sonhando ser Chuang Tzu.

Na verdade isto incomodou tanto Chuang Tzu durante o dia todo que, quando chegou a noite ele decidiu que não iria sonhar mais.Assim desde que escureceu Chuang Tzu, começou a repetir um mantra: -Eu não vou sonhar, eu não vou sonhar. E assim continuou durante todo o tempo até deitar e mesmo antes de adormecer, continuou repetindo:- Eu não vou sonhar, eu não vou sonhar. E assim dormiu. Na manhã seguinte ao acordar, se deu conta que passou a noite toda sonhando que repetia o mantra: -Eu não vou sonhar, eu não vou sonhar.

Chuang Tzu ficou desesperado, e chegou a conclusão de que a única forma de não sonhar era não dormir. Passou o dia todo repetindo o mantra:-Eu não vou dormir, eu não vou dormir. Chegou a noite. Chuang Tzu não deitou. Sentou-se em posição de Lótus e continuou repetindo o Mantra:

- Eu não vou dormir, eu não vou dormir.

Quando se deu conta de si, já era de manhã. Chuang Tzu então percebeu que havia dormido sentado e que sonhou que passou a noite toda acordado, repetindo o Mantra: - Eu não vou dormir, eu não vou dormir!

Foi assim que Chuang Tzu compreendeu que o que o pertubava era o desejo tolo de dormir sem sonhar, de estar sempre acordado sem dormir.

Chuang Tzu percebeu que o encontro de opostos é o próprio Tao.

E escreveu:

Todos no mundo reconhecem o belo como Belo e, desta forma, sabem o que é o Feio.

Todos no mundo reconhecem o bem como o Bem e, desta forma, sabem o que é o Mal.

Assim, o ser e o não-ser geram-se mutuamente.

O longo e o curto se delimitam; O alto e o baixo se inclinam

O tom e o som se harmonizam; O antes e o depois seguem-se um ao outro.

Assim o sábio executa suas tarefas sem agir e transmite ensinamentos sem usar palavras.

Todas as coisas agem, e ele não lhes nega auxílio.

Produz sem apropriar-se de coisa alguma.

Realiza sua tarefa e não pede gratidão e é justamente porque não se apega que o mérito jamais o abandona e suas obras meritórias subsistem.

A Música

Era uma vez
Um sábio chinês
Que um dia sonhou
Que era uma borboleta
Voando nos campos
Pousando nas flores
Vivendo assim
Um lindo sonho...

Até que um dia acordou
E pro resto da vida
Uma dúvida
Lhe acompanhou...

Se ele era
Um sábio chinês
Que sonhou
Que era uma borboleta
Ou se era uma borboleta
Sonhando que era
Um sábio chinês...

P.S. O Roteiro de meu filme começará e
terminará com esse poema!

Vida que segue...

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Carvão

"Surgiu como um clarão
Um raio me cortando a escuridão
E veio me puxando pela mão
Por onde não imaginei seguir
Me fez sentir tão bem, como ninguém
E eu fui me enganando sem sentir
E fui abrindo portas sem sair
Sonhando às cegas, sem dormir
Não sei quem é você

O amor em seu carvão
Foi me queimando em brasa no colchão
E me partiu em tantos pelo chão
Me colocou diante de um leão
O amor me consumiu, depois sumiu
E eu até perguntei, mas ninguém viu
E fui fechando o rosto sem sentir
E mesmo atento, sem me distrair
Não sei quem é você

No espelho da ilusão
Se retocou pra outra traição
Tentou abrir as flores do perdão
Mas bati minha raiva no portão
E não mais me procure sem razão
Me deixe aqui e solta a minha mão
E fui fechando o tempo, sem chover
Fui fechando os meus olhos, pra esquecer
Quem é você?"

Ana Carolina

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Justiça Divina?

Como você explicará a Deus aqueles momentos em que a virtude não lhe foi conveniente? Não importa o quanto você tenha mudado, ainda terá que responder por todos os teus pecados!

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Quando eu Morri

Deveria ser umas dez horas da noite naquele fatídico domingo do dia 17 de junho de 2000, eu acabara de deixar em sua casa a minha então namorada, Priscila, e voltava para a minha, pela BR 116 (atualmente linha verde), na via oposta, indo em direção ao acesso à BR 376, que leva de Curitiba até Paranaguá, uma fila interminável de caminhões transportando soja para o porto, na via em que eu estava, poucos metros à minha frente, apenas uma caminhonete que ebreamente “ziguezagueava” na pista, não respeitando sua faixa de mão. Prudência? Até então não sabia o que significava, acelerei, e quando o ponteiro chegou a 140 km, a tal caminhonete invadiu a minha pista me dando um leve toque, mas forte o suficiente para me fazer perder o controle do carro... Rodei, uma das rodas pegou num buraco (ainda existem muitos naquela rodovia) que alavancou meu carro, o teto bateu no chão, vi todos os vidros estilhaçando, engraçado a relatividade do tempo, nessa fração de segundo um filme de toda minha vida passou na minha mente... o carro alçou vôo mais uma vez, batendo as rodas no chão e mais uma vez o teto, desta vez os vidros explodiram, estilhaços do parabrisas rasgaram minhas mãos, (tenho algumas cicatrizes ainda hoje, 9 anos depois) o cheiro de gasolina e as faíscas que levantavam do asfalto enquanto meu carro rodava de cabeça para baixo me deram a certeza de que, naquele instante, eu morreria...
No dia seguinte, em casa, antes de partir para o trabalho, tentei entrar no que sobrou do carro, não consegui, no lugar do motorista não tinha espaço para um adulto ficar, as pessoas que passavam por ali perguntavam se o motorista tinha morrido e se espantavam ao ver que, fora os ematomas causado pelo cinto de segurança, os cortes nas mãos e o prejuízo financeiro, não me acontecera absolutamente nada...
O tempo passa e eu começo a me referir à este dia como “Quanto eu morri...” durante meses foi assim, até que resolvi escrever uma crônica com esse título, nela eu narrava um acidente de carro com o motorista indo a óbito e acordando, um tempo depois, no inferno. Mas ele não sabia que estava lá, na verdade, ele não sabia que tinha morrido, lembrava do acidente mas acreditava que tinha ido pra casa, depois ido trabalhar, namorar, etc. sem saber que era apenas uma ilusão proporcionada por Lúcifer, para torturá-lo. Em não saber que estava morto, ele não questionava as coisas ruins que aconteciam com ele, aceitava a tortura, achava que era uma maré de azar, mas que iria mudar, talvez no ano novo, quem sabe?... Enfim, o argumento para essa história não acabava nunca, pois todo dia acontecia algo no meu trabalho ou ao meu redor (não necessariamente comigo apenas) que me dava uma nova idéia e, de uma crônica, acabou virando um livro. Quando cheguei, anos mais tarde (5 anos, para ser exato), na septagésima segunda página, morri de novo, desta vez de Guaruja... (longa história, mas essa vai virar uma HQ.). Desisti de escrever, joguei o texto fora, passei a me dedicar a esse blog e a desenhar. Mas a idéia do “Quando eu morri” passou a me assombrar de novo, agora, de uma forma diferente, passei a rever minha vida e todas as vezes que eu morri, como morri e porque morri... A primeira foi em 1975, eu estava para completar meu segundo ano de vida quando uma radiografia acusou uma mancha no meu pulmão direito, nessa época um exame detalhado como “Ressonância Magnética” ou “Tomografia Computadorizada” nem em sonho, tentaram drenar a mancha e o “ácido” do abscesso vazou, perfurando todo meu pulmão, moral da história, fui operado por nove horas no hospital da PM, aquele totalmente falido ali no Jardim Botânico, em nove horas de cirurgia foram 4 paradas cardíacas, a última, demorou (segundo minha mãe) intermináveis dois minutos, chegaram a declarar meu óbito... Ressurgi das cinzas (provavelmente daí venha a minha paixão pela mitológica ave fênix), cresci, demorou mas me apaixonei, Juliana, eu tinha vinte e quatro anos, ela vinte, dois anos e dois meses depois e um ano antes do acidente, ela me largou, sem maiores satisfações, ali aprendi que não necessariamente você morre da vida, muito pior, você MORRE PARA A VIDA! Foi o que eu fiz. Fui ridículo, emocionalmente pouco experimentado e nada desenvolvido, não soube como trabalhar essa situação, pensei em suicídio e tudo mais... passou... (“a dor passa, mas não passa ter doído” Carlos Drummond de Andrade.)... Quando finalmente voltei a me apaixonar, fui mais uma vez enganado, largado, trocado por um final de semana no Guarujá. Nessa o que me matou foi a mentira, nada me mata mais que uma mentira, venha ela de um amigo, parente ou amor, quando alguém me engana desta forma covarde é morte certa! Bem, depois, só para ratificar a merda, ela ainda se casou com um viciado em cocaína... Mais uma morte emocional! Pensei bem e decidi, me apaixonar de novo, nunca mais! Misantropo assumido, restringi meu círculo de amizades para uma meia dúzia, talvez nem isso, escrevi em um texto qualquer que ”não sabia mais morrer”, olhei para os céus e gritei: - Deus, quero ver agora você fazer eu me decepcionar novamente!
09/11/2009... Aqui estou eu, triste, sorumbático, melancólico, debruçado no teclado do meu computador enquanto cato pedaços de um coração partido e tento ressurgir das cinzas mais uma vez, desejando, do fundo desta pungente alma, que seja a derradeira... Quanto ao “Quando eu Morri”? Virou um desabafo! Vida que (apesar de tudo) segue...

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

William Shakespeare

"Quando a hora dobra em triste e tardo toque
E em noite horrenda vejo escoar-se o dia,
Quando vejo esvair-se a violeta, ou que
A prata a preta têmpora assedia;
Quando vejo sem folha o tronco antigo
Que ao rebanho estendia a sombra franca
E em feixe atado agora o verde trigo
Seguir no carro, a barba hirsuta e branca;
Sobre tua beleza então questiono
Que há de sofrer do tempo a dura prova,
Pois as graças do mundo em abandono
Morrem ao ver nascendo a graça nova.
Contra a foice do tempo é vão combate,
Salvo a prole, que o enfrenta se te abate."


Engraçado ver que até os grandes mestres temiam envelhecer! - Deus, você não cumpriu tua parte no acordo e agora... vida que segue...

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Respondendo ainda sobre Dante...

Galera, se não ler o livro não entende mesmo né?!
Mas vamos lá, respondendo aos que não entenderam
quem ou o quê é "Caína"... (Não tem no dicionário, é óbvio)...
Caína é a primeira das quatro divisões do nono círculo onde são punidos os traidores de parentes. Na Caína, as almas permanecem submersas com apenas o tórax e a cabeça fora do gelo. Seu nome tem origem no personagem bíblico Caim que matou seu irmão Abel por causa de inveja (Gênese 4:8).

A Divina Comédia é um clássico da literatura universal, aos que gostaram ou se interessaram pelo texto postado algumas horas atrás, vai aí a sugestão, leiam o livro, não vão perder a alma por isso, não é pecado ler, é uma história de amor interessante e, segundo informações colhidas na grande rede, vai virar uma História em Quadrinhos (doravante chamada apenas de HQ) e um game!
Vida que segue...

Uma do "Divino" Dante...

”Amor, ch'a nullo amato amar perdona,
mi prese del costui piacer sì forte,
che, come vedi, ancor non m'abbandona.

Amor condusse noi ad una morte:
Caina attende chi a vita ci spense”.


“Amor, em paga exige igual ternura,
Tomou por ele em tal prazer meu peito,
Que, bem o vês, eterno me perdura.

“Amor nos igualou da morte o efeito:
A quem no-la causou, Caína, esperas”.

Divina Comédia
Inferno V° Canto vv.103 -107
Dante Alighieri

*** Trocando em Miúdos ***

Por um lado, destaca-se o poder esmagador do amor, que (como muitos disseram) não permite a uma pessoa que seja verdadeiramente amada de não recambiar (e isso explica a atração entre Paolo e Francesca), juntamente a esta interpretação coloca-se pelo menos uma outra:
O amor (sagrado de um casamento, como aquele de Francesca) não perdoa e não admite de amar outros;
O amor é, portanto, em Dante, algo complexo que não pode ser reduzido unicamente ao "Amor Cortese"; em quanto põe contradições naturais que conduzem a resultados até trágicos.
A Francesca (que é casada) o amor não permite de amar outro que não seja seu marido. Mais o mesmo amor, porém lhe permite de retribuir o sincero sentimento de Paolo (que os levará à morte e à danação eterna).
Esta contradição mesma entre, os preceitos religiosos e o esmagador poder do amor, expresso em tão alta forma, explica a solidariedade de Dante para os dois pecadores.
O poeta não se põe como moralizador, simplesmente descreve a tragédia do conflito entre a moral e a paixão, duas forças que são invencíveis.
E assim, mesmo se põe Paolo e Francesca entre os malditos, não pode deixar de sentir um profundo sentimento de piedade humana para eles.
Afinal, é impossível amar alguém sem se despedaçar!!! Trapo também é cultura... Vida que segue...