segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Quando eu Morri

Deveria ser umas dez horas da noite naquele fatídico domingo do dia 17 de junho de 2000, eu acabara de deixar em sua casa a minha então namorada, Priscila, e voltava para a minha, pela BR 116 (atualmente linha verde), na via oposta, indo em direção ao acesso à BR 376, que leva de Curitiba até Paranaguá, uma fila interminável de caminhões transportando soja para o porto, na via em que eu estava, poucos metros à minha frente, apenas uma caminhonete que ebreamente “ziguezagueava” na pista, não respeitando sua faixa de mão. Prudência? Até então não sabia o que significava, acelerei, e quando o ponteiro chegou a 140 km, a tal caminhonete invadiu a minha pista me dando um leve toque, mas forte o suficiente para me fazer perder o controle do carro... Rodei, uma das rodas pegou num buraco (ainda existem muitos naquela rodovia) que alavancou meu carro, o teto bateu no chão, vi todos os vidros estilhaçando, engraçado a relatividade do tempo, nessa fração de segundo um filme de toda minha vida passou na minha mente... o carro alçou vôo mais uma vez, batendo as rodas no chão e mais uma vez o teto, desta vez os vidros explodiram, estilhaços do parabrisas rasgaram minhas mãos, (tenho algumas cicatrizes ainda hoje, 9 anos depois) o cheiro de gasolina e as faíscas que levantavam do asfalto enquanto meu carro rodava de cabeça para baixo me deram a certeza de que, naquele instante, eu morreria...
No dia seguinte, em casa, antes de partir para o trabalho, tentei entrar no que sobrou do carro, não consegui, no lugar do motorista não tinha espaço para um adulto ficar, as pessoas que passavam por ali perguntavam se o motorista tinha morrido e se espantavam ao ver que, fora os ematomas causado pelo cinto de segurança, os cortes nas mãos e o prejuízo financeiro, não me acontecera absolutamente nada...
O tempo passa e eu começo a me referir à este dia como “Quanto eu morri...” durante meses foi assim, até que resolvi escrever uma crônica com esse título, nela eu narrava um acidente de carro com o motorista indo a óbito e acordando, um tempo depois, no inferno. Mas ele não sabia que estava lá, na verdade, ele não sabia que tinha morrido, lembrava do acidente mas acreditava que tinha ido pra casa, depois ido trabalhar, namorar, etc. sem saber que era apenas uma ilusão proporcionada por Lúcifer, para torturá-lo. Em não saber que estava morto, ele não questionava as coisas ruins que aconteciam com ele, aceitava a tortura, achava que era uma maré de azar, mas que iria mudar, talvez no ano novo, quem sabe?... Enfim, o argumento para essa história não acabava nunca, pois todo dia acontecia algo no meu trabalho ou ao meu redor (não necessariamente comigo apenas) que me dava uma nova idéia e, de uma crônica, acabou virando um livro. Quando cheguei, anos mais tarde (5 anos, para ser exato), na septagésima segunda página, morri de novo, desta vez de Guaruja... (longa história, mas essa vai virar uma HQ.). Desisti de escrever, joguei o texto fora, passei a me dedicar a esse blog e a desenhar. Mas a idéia do “Quando eu morri” passou a me assombrar de novo, agora, de uma forma diferente, passei a rever minha vida e todas as vezes que eu morri, como morri e porque morri... A primeira foi em 1975, eu estava para completar meu segundo ano de vida quando uma radiografia acusou uma mancha no meu pulmão direito, nessa época um exame detalhado como “Ressonância Magnética” ou “Tomografia Computadorizada” nem em sonho, tentaram drenar a mancha e o “ácido” do abscesso vazou, perfurando todo meu pulmão, moral da história, fui operado por nove horas no hospital da PM, aquele totalmente falido ali no Jardim Botânico, em nove horas de cirurgia foram 4 paradas cardíacas, a última, demorou (segundo minha mãe) intermináveis dois minutos, chegaram a declarar meu óbito... Ressurgi das cinzas (provavelmente daí venha a minha paixão pela mitológica ave fênix), cresci, demorou mas me apaixonei, Juliana, eu tinha vinte e quatro anos, ela vinte, dois anos e dois meses depois e um ano antes do acidente, ela me largou, sem maiores satisfações, ali aprendi que não necessariamente você morre da vida, muito pior, você MORRE PARA A VIDA! Foi o que eu fiz. Fui ridículo, emocionalmente pouco experimentado e nada desenvolvido, não soube como trabalhar essa situação, pensei em suicídio e tudo mais... passou... (“a dor passa, mas não passa ter doído” Carlos Drummond de Andrade.)... Quando finalmente voltei a me apaixonar, fui mais uma vez enganado, largado, trocado por um final de semana no Guarujá. Nessa o que me matou foi a mentira, nada me mata mais que uma mentira, venha ela de um amigo, parente ou amor, quando alguém me engana desta forma covarde é morte certa! Bem, depois, só para ratificar a merda, ela ainda se casou com um viciado em cocaína... Mais uma morte emocional! Pensei bem e decidi, me apaixonar de novo, nunca mais! Misantropo assumido, restringi meu círculo de amizades para uma meia dúzia, talvez nem isso, escrevi em um texto qualquer que ”não sabia mais morrer”, olhei para os céus e gritei: - Deus, quero ver agora você fazer eu me decepcionar novamente!
09/11/2009... Aqui estou eu, triste, sorumbático, melancólico, debruçado no teclado do meu computador enquanto cato pedaços de um coração partido e tento ressurgir das cinzas mais uma vez, desejando, do fundo desta pungente alma, que seja a derradeira... Quanto ao “Quando eu Morri”? Virou um desabafo! Vida que (apesar de tudo) segue...

2 comentários:

Unknown disse...

É meu amigo....a gente passa a vida inteira tentando ressurgir das cinzas, mas dó pó viemos e ao pó voltaremos! É a roda da vida! O importante, e sempre digo isso pra você é que "vamos arder juntos no mármore do inferno!.....vida que segue.....amo-te!

Anônimo disse...

É isso aí Tammy, "vamos arder juntos no mármore do inferno!.....rsrsrsrs


Kiko essa não me fez rir.
Mas é bom que deu pra aprender um pouco mais sobre esse "trapo".
E vc continua escrevendo mt bem.

Bjusssssss